A usina criativa de 
			Franz Weissmann
			Frederico Morais
1
			A imagem que quero guardar de Franz Weissmann, hoje com 80 anos, é a 
			de um homem quieto, que vive calado no seu canto, como se estivesse 
			sempre a ruminar pensamentos e obras. Eu o conheci ainda em Belo 
			Horizonte, nos anos 50, e desde então não mudou sua maneira de ser. 
			Silencioso, mesmo quando se dispõe a ir a um vernissage ou a uma 
			reunião de amigos. De vez em quando, nessas ocasiões, se provocado, 
			murmura algum comentário sobre arte, para logo em seguida se fechar 
			em seu mutismo. Mas não é arrogante nem antipático nesse seu jeito 
			de ser. Ao contrário. Crítico severo de seu trabalho, disse-me certa 
			vez: "É preciso beber o fel até a última gota", como que a indicar 
			que a arte é mais sofrimento do que prazer.
			
			
			2
			Ver o artista em seu ateliê, trabalhando, é ver a obra germinando, 
			nascendo entre indecisões e dúvidas, entre avanços e recuos, entre o 
			pânico de ser e a entrega. Mas este momento, a epifania da obra, seu 
			desabrochar definitivo, quase sempre escapa ao crítico ou 
			historiador de arte. Preocupados com a inserção da obra de arte no 
			meio social e no circuito cultural, dão pouca importância à 
			fenomenologia do ato criador. Isto é, não valorizam tudo aquilo que 
			ocorre no ateliê durante o processo criador: movimentos, silêncios, 
			pausas, arfares, o modo como o artista se posiciona diante da tela, 
			do papel, da prancheta, a gestualidade específica de cada ofício ou 
			técnica. O local onde o artista instala seu ateliê, a iluminação, os 
			ruídos, o modo como organiza seu espaço e o tempo, como distribui 
			seus materiais e instrumentos de trabalho, tudo isso repercute, às 
			vezes decisivamente, no resultado final da obra. Afinal, uma obra de 
			arte não é um desenho técnico, uma fria equação matemática, um 
			teorema, puro conceito. Ela nunca é prioritariamente um produto 
			acabado, pronto para ser embalado e vendido. Uma obra de arte é, 
			antes de tudo, emoção e mistério: é uma espera, um processo que não 
			se esgota nunca, um fluxo. É arte e é vida.
			
			Ter visitado o ateliê de Weissmann, em Ramos, Zona Norte do Rio de 
			janeiro, apenas alguns meses depois que aqui cheguei, por volta de 
			1966, foi para mim uma experiência crucial. Artista que sempre lidou 
			com materiais e tecnologias industriais - ferro, aço, madeira, 
			alumínio, guindastes etc. -, foi com naturalidade que Weissmann 
			instalou seu ateliê no interior da fábrica de carrocerias de ônibus 
			Ciferal. Apesar do barulho infernal, sentia-se bem circulando entre 
			máquinas e detritos industriais, vendo beleza e poesia onde outros 
			costumam ver apenas utilidade e lucro. Aliás, é preciso fazer o 
			elogio dessa empresa, pois o apoio que o artista teve da parte de 
			seus dirigentes foi fundamental ao desenvolvimento de sua obra. De 
			fato, durante várias décadas, pôde usar material, equipamento e 
			mão-de-obra operária para realizar ali a maioria de suas peças mais 
			importantes, várias delas premiadas.
			
			Nem sempre, porém, as coisas lhe foram favoráveis. Várias esculturas 
			de sua fase inicial, figurativa, e outras abstratas e concretas 
			foram totalmente destruídas no final dos anos 50, a mando de um 
			delegado de polícia, que queria transformar seu ateliê-sala de aula 
			no porão da Escola Guignard, na capital mineira, em depósito de 
			presos. Um síndico desavisado e insensível jogou suas esculturas num 
			galinheiro. Outras peças se deterioram, guardadas em caixotes, após 
			terem sido expostas na Europa, devido à incúria da burocracia 
			governamental. Desta sina não escapou sequer seu Monumento à 
			liberdade de expressão do pensamento, implantado na Quinta da Boa 
			Vista, e mandado derrubar, oito anos depois, pela antiga SURSAN, à 
			época do governo Carlos Lacerda.
			
			Desde aquela primeira visita ao ateliê de Weissmann, há vinte e oito 
			anos, cobro do artista uma exposição ampla de sua obra, mas que não 
			se limite a mostrar as obras acabadas, hoje integrando coleções 
			públicas e privadas ou enriquecendo praças e jardins do Brasil. Uma 
			exposição que inclua também seus projetos, esboços, estudos, 
			protótipos, tudo aquilo que, sendo ainda idéias, iluminações, 
			intuições, aquelas "pequenas sensações" de que falava Cézanne e que 
			nele são vivências espaciais, de forma e movimento, revele seus 
			mecanismos de criação escultórica, a organicidade das idéias que 
			nascem, renascem e se renovam até chegar à obra definitiva.
			
			Há já algum tempo, Weissmann transferiu seu ateliê do interior da 
			indústria de carrocerias para um galpão contíguo. Contudo, o impacto 
			de quem o visita não é menor. Mais organizado e limpo, continua 
			sendo o que sempre foi: uma verdadeira usina de criação, o mais 
			extraordinário acervo ou arquivo de formas escultóricas do país, 
			referência para quase tudo o que se fez e ainda se fará nas próximas 
			décadas em matéria de arte construtiva. Em relação à própria 
			trajetória do artista, está tudo ali: obras figurativas que remetem 
			ao seu aprendizado com Zamoyski, nos anos 40, que falam de sua 
			participação no Grupo Frente (1954) e nos movimentos concreto (1956) 
			e neoconcreto (1959), colunas, cubos, torres, estruturas gestálticas 
			e modulares, múltiplos, obras permutáveis, canaletas, cantoneiras, 
			monumentos e fitas realizados nos mais diversos materiais - arame, 
			alumínio, ferro, aço, madeira, - e em diferentes escalas e versões, 
			além de desenhos, pinturas e chapas de zinco de sua fase espanhola 
			(Madri e Irun), relevos e colagens com materiais heteróclitos, 
			formando um caudal inesgotável de idéias e propostas sem igual no 
			Brasil.
			
			Por isso tenho defendido, desde muito tempo, a exposição desse 
			ateliê-usina de criação, tal como está organizado, num dos museus ou 
			instituições culturais da cidade. E, feito isto, preservá-lo, 
			através do tombamento pelo governo brasileiro, abrindo-o em seguida 
			à visitação pública e, principalmente, aos estudantes de arte e a 
			jovens artistas, que encontrarão ali um laboratório permanente de 
			criação escultórica. Da mesma forma, algum empresário mais lúcido 
			poderia patrocinar a edição de séries de múltiplos, transformando em 
			protótipos alguns dos projetos que se encontram guardados em 
			estantes, armários, caixotes, fixados nas paredes, no teto etc.
			
			
			3
			Weissmann não desenha nem faz esboços gráficos para realizar suas 
			esculturas. Começa com pequenos modelos de papelão. Faz ensaios 
			sucessivos: corta, dobra, separa, junta, repete, torce, experimenta 
			diversas escalas, às vezes troca, numa segunda etapa, o papelão por 
			outro material, mais rígido, abandona o projeto, insatisfeito, 
			inicia outro, mais outro, retoma o antigo até encontrar a forma 
			ideal quando, então, prepara o desenho técnico, para execução, já 
			considerando o material definitivo a ser empregado e a adequação da 
			peça ao contexto arquitetônico ou urbano, quando se trata de obra 
			pública. Como lembrava Gullar, em 1962, "suas idéias nascem 
			diretamente do trabalho: a teoria não encontra campo para se 
			formular". Ou seja, ele não parte de um conceito abstrato para 
			alcançar a forma. No seu processo criador, mais que o olho é a mão 
			que sente o espaço, a relação de cheios e vazios, de tensão e 
			repouso. Olhar-tátil. A geometria é apenas uma ferramenta que o 
			artista usa para se expressar, mas não se deixa dominar por ela. 
			Nessa fase inicial, em que a mão apalpa, tateia e quase diria, como 
			Focillon, olfateia espaços que estão prestes a nascer, a cor não 
			entra. Ele apenas deixa fluir, entre os dedos, como se fossem 
			sensações fugidias, um espaço novo, um movimento que procura deter.
			
			E assim como não existe um desenho prévio, sua obra não é mera 
			ilustração de uma teoria. É certo que o artista nunca parte do nada. 
			Cada gesto já nasce impregnado de vida, de experiências acumuladas, 
			está imerso na história da arte. Como demonstrou Pierre Francastel, 
			"o nascimento ou o declínio de um determinado espaço plástico está 
			ligado ao nascimento e ao declínio de um determinado estado de 
			civilização". Um estilo de arte, portanto, é um fato estético e 
			social, seja a minimal art ou o barroco.
			
			Artista construtivo, o processo criador de Weissmann, lento e 
			demorado, meticuloso, consiste em buscar o essencial de cada forma, 
			o "mais no menos", mas sem nunca chegar à aridez ou à esterilidade 
			inventiva. Sua escultura não é narrativa ou descritiva de fatos 
			passados: alimenta-se do presente. Mas, para Weissmann, viver o 
			presente não significa imiscuir-se nas circunstâncias do cotidiano, 
			é captar o que há de permanente e estável em cada momento ou 
			situação. Suas esculturas revelam uma grande leveza e frescura 
			interiores, sem deixarem de ser sólidas e estáveis. São, ao mesmo 
			tempo, muito simples e muito complexas. E mesmo sendo, como criador, 
			um intuitivo, sua obra revela um comportamento sistêmico, havendo 
			uma lógica interna que une trabalhos de diferentes épocas e fases - 
			e é justamente essa lógica que vai caracterizar sua produção 
			escultórica como uma forma de pensamento - pensamento não-verbal.
			
			
			4
			Em sua fase concreta/neoconcreta, Weissmann atuou no sentido de 
			anular a presença do material, de torná-lo secundário ou acessório. 
			Para ele, então, o verdadeiro material não era o alumínio, o ferro 
			ou a madeira, mas o vazio.
			
			Este vazio não era (não é), entretanto, ausência de massa. Não é um 
			buraco, o oco da forma. Weissmann não esculpe dentro da tradição, 
			isto é, não desbasta nem agrega, ele cria espaços, lida com 
			estruturas. Assim, o vazio neoconcreto é, na verdade, uma presença, 
			é um espaço que se cria, novo, surpreendente. É um silêncio que 
			subitamente grita e se faz ouvir. Na escultura figurativa, por seu 
			conteúdo narrativo, é mais difícil encontrar o vazio como tendo uma 
			expressão própria. Foi a partir da arte concreta que ganhou 
			autonomia, como se pode ver em Cubo vazado (1950/1951), que é a 
			primeira obra rigorosamente concreta criada no Brasil. Nessa obra o 
			vazio existe. E significa. E esta descoberta, que se renova no 
			espectador, provoca uma grande euforia. O caráter inovador da obra 
			era tão perturbador que desorientou o júri da 1a Bienal de São 
			Paulo, que acabou por recusá-la. Quatro anos depois, entretanto, 
			receberia, na mesma bienal, o prêmio de melhor escultor nacional.
			
			O Cubo vazado (que na verdade deveria ser chamado de "cubo virtual") 
			é, de fato, uma obra inusitada pelo contraste que o artista criou 
			entre aquilo que, nela, é real, tem matéria, peso, contorno, que tem 
			tactilidade, enfim, e aquilo que é imaterial, impalpável, que é 
			virtualidade pura. Esta obra ajuda a esclarecer, definitivamente, a 
			diferença entre o simplesmente vazado (transpor a massa, ato 
			mecânico) e o vazio. Este é algo mais sutil: o espaço nasce, emerge, 
			desabrocha, manifesta-se virtualmente, mas, quando o percebemos, 
			impõe-se de tal maneira que não conseguimos mais esquecê-lo. 
			Estrutura linear, de 1954, pode ser vista como a versão linear do 
			Cubo vazado, sendo constituída de dois cubos virtuais, que se 
			interpenetram sem perder sua individualidade. Num dos cubos, a linha 
			está pintada de preto; no outro, de branco. É fácil para qualquer um 
			fazer a transposição visual entre as duas peças.
			
			Durante muito tempo o vazio foi a matéria prima da escultura de 
			Weissmann, vale dizer, o real de sua escultura é o virtual, espaço 
			imaterial, que se renova continuamente, a cada deslocamento do 
			espectador - ou do fotógrafo. E vão surgindo, assim, nas suas 
			colunas e em obras como Três pontos, círculos, semicírculos, ovais, 
			hexágonos e losangos que se expandem ou se contraem, num contínuo 
			vir-a-ser ou desenhar de formas.
			
			
			5
			Dentro, o vazio. Do lado de fora, a sombra. Virtualidades. A maioria 
			das esculturas de Weissmann prescinde de base ou pedestal. Isso quer 
			dizer que se comunicam diretamente com o espaço, ou melhor, são 
			parte do espaço. São implantadas diretamente no chão, 
			equilibrando-se às vezes num único ponto de apoio, numa única 
			aresta, e assim permanecem como que soltas no espaço, como se 
			quisessem alçar vôo ou pender para um dos seus lados, precariamente. 
			A parte da chapa que se recorta, o plano que se desloca, o corte que 
			divide sem separar, as formas em confronto ou diálogo e os vazios 
			geram um outro tipo de virtualidade: sombras. Que são parte do 
			significado da escultura. Ou melhor, são uma outra e a mesma 
			escultura. Desenhos no espaço: sombras na parede.
			
			
			6
			Contemplado com o Prêmio de Viagem ao Exterior no Salão Nacional de 
			Arte Moderna, em 1958, viajou no ano seguinte para a Europa. Mas 
			antes de se fixar na Espanha esteve no Japão e na índia. Sua estada 
			nesse último país teve enorme impacto no artista, deixando-o 
			deprimido por muito tempo. Instintivamente, começou a cobrir folhas 
			e folhas de papel com uma linha infindável, que se enroscava, 
			formando labirintos. A seguir passou a amassar chapas de zinco com a 
			ajuda de martelos, porretes, soquetes e até da própria mão, vestida 
			com luva de boxe ou mesmo nua. Foi um sofrido e áspero diálogo com a 
			matéria. Essa fase, ainda pouco conhecida do grande público, precisa 
			urgentemente ser resgatada pela crítica, pois ela ajuda também a 
			compreender melhor a personalidade de Weissmann. É um momento de 
			grande depressão do artista, eu diria mesmo doloroso, mas que, 
			ironicamente, proporcionou obras magníficas.
			
			Weissmann permaneceu quase seis anos fora do Brasil. Saíra daqui 
			concreto, um rigoroso criador de estruturas geométricas, de sentido 
			classicizante, e retornara gótico-expressionista. O poeta João 
			Cabral de Melo Neto, comentando essas obras européias, expostas em 
			Madri, disse que eram "uma explosão no edifício de uma escultura 
			cuja função fora sempre fazer da pedra cristal, no método de um 
			escultor cujo gosto foi sempre o perfil claro e solar". Mário 
			Pedrosa, vendo essas mesmas obras na exposição que o artista 
			realizou na Petite Galerie, em 1965, logo após seu retorno ao 
			Brasil, observou que "se os desenhos lhe são um diálogo entre a 
			linha e a luz, as placas em relevo são um diálogo entre o traço e o 
			golpe - a luz".
			
			De minha parte, aproveitei-me dessas obras para formular uma 
			interpretação da arte brasileira quando posta em confronto com a 
			arte européia. No Brasil, onde tudo está por fazer, por trabalhar
			e construir, parecia natural que Weissmann assumisse, plenamente, 
			sua vocação construtiva, criando obras marcadas pelo equilíbrio e a 
			contenção. Numa Europa saturada culturalmente, onde tudo lhe parecia 
			concluído, acabado, natural que sua arte expressasse pessimismo, que 
			buscasse uma aproximação daquele "nada total" de que falava Mathieu 
			em seu manifesto tachista. Era preciso destrabalhar, desconstruir, 
			desmanchar, para só então dar início à reconstrução do universo.
			
			No entanto, esses desenhos e placas, vistos mais atentamente, 
			sugerem um outro tipo de organização: seriam uma tentativa mais 
			-sutil de apreensão da luz e, através dela, de estruturação de 
			espaços. Como se, ao enroscar a linha de modo incessante, ou ferir 
			estoicamente a chapa e a si próprio, estivesse buscando, dentro do 
			caos, uma outra ordem, uma outra estrutura. Como se no ponto mais 
			fundo do poço em que mergulhara houvesse um espaço de luz clara, 
			aquele céu de Canaletto ou Tiepolo do qual falou Pedrosa a propósito 
			de suas chapas: "martelou-as como um ser sensível. Sob seus golpes, 
			o zinco vira céu". Nesse sentido, esses trabalhos europeus estariam 
			mais próximos da espiritualidade de um Tobey, com suas "escrituras 
			brancas", dos drippings de Pollock, da espacialidade de Fontana, da 
			cosmicidade dos "mais e menos" de Mondrian e bem longe da 
			superficialidade decorativa do tachismo. Pouco a pouco, Weissmann 
			reencontra sua ambiência brasileira e sua escultura novamente busca 
			a via construtiva. O silêncio substitui o grito, a alegria supera a 
			raiva, o quadrado ressurge. A ordem está refeita.
			
			
			7
			Artista construtivo, Weissmann encontrou no quadrado o arquétipo da 
			beleza pura - o ângulo reto como bússola a guiar sua criação. 
			Arrancou da matéria bruta o cubo virtual: o vazio, que é silêncio. 
			Fez dele uma realidade. O auge dessa busca de uma beleza pura, tendo 
			como base o quadrado, é a escultura~ instalação que apresentou na 
			mostra "Objeto e participação", que organizei para o Palácio das 
			Artes, em Belo Horizonte, 1970, denominada Labirinto. Uma outra 
			versão desse labirinto e mais três peças igualmente realizadas com 
			perfis de alumínio, todas dentro do mesmo espírito purista, 
			constituíram o que Weissmann enviou à Bienal de Veneza, em 1972. 
			Elas são o ápice de seu conceito de escultura como um desenho no 
			espaço, mas consagraram, também, um outro conceito do artista: a 
			escultura habitável. De fato, Weissmann emprega o mais puro desenho 
			geométrico para erguer, nos giardini de Veneza, uma 
			escultura-arquitetura que é puro espaço, templo da ordem e do 
			silêncio, a casa ideal do artista, que é ao mesmo tempo a mais 
			perfeita homenagem ao quadrado, a mais límpida neoplástica (jogo 
			sutilíssimo de simetrias e assimetrias), branco sobre branco 
			malevitchiano, o vazio dentro do vazio (inundando nossos corações de 
			alegria). Essas esculturas-arquiteturas abrigam todas as 
			idealizações de uma ordem perfeita, transparente, luminosa, solar: o 
			Partenon grego, a arquitetura modular dos japoneses, o urbanismo 
			renascentista, o classicismo arquitetõnico do século XX, qualquer 
			uma das cidades invisíveis de Italo Calvino, uma cantata de Bach, a 
			Bauhaus, Gropius, Mies Van der Rohe, Albers, Mondrian, Le Corbusier, 
			Malevitch, Goeritz, Villamizar, Sol Lewitt etc.
			
			
			8
			Mas em 1971, na Bienal de Escultura ao Ar Livre de Antuérpia, na 
			Bélgica, Weissmann já antecipara a "destruição" desse templo da 
			ordem e da perfeição, que seria revisto no ano seguinte, em Veneza, 
			distribuindo, sobre o extenso gramado em que se desdobra a mostra, 
			módulos de madeira pintados, recobertos por fiberglass. Alguns 
			módulos ainda se erguem verticalmente, outros parecem empilhados, 
			não arbitrariamente, é claro, mas deixando a sensação de que 
			poderiam ser manipulados ludicamente, não fossem tão grandes e 
			pesados. Mas quando tombam sobre a grama dois quadrados, o gesto 
			ganha uma dimensão simbólica, sinalizando que, a partir daí, sua 
			escultura mudaria de rumo. O que de fato ocorre. Uma das novidades é 
			a cor; outra, a presença das diagonais, como iremos ver.
			
			
			9
			Vivendo uma época industrial, com seu ateliê instalado na Ciferal, 
			lidando com materiais e técnicas correspondentes, Weissmann acaba 
			por absorver, em seu trabalho, parte desse "conteúdo" industrial. Em 
			suas esculturas de grande porte, públicas, esse substrato industrial 
			é quase um estilo. Seta, escultura de 1979, instalada defronte de 
			uma revendedora da Mercedes-Benz, em Nova Iguaçu, reafirma essa 
			origem, seja pelo vigor e solidez da estrutura, seja pelo emprego 
			ostensivo dos rebites, à maneira de Negret, com o objetivo claro de 
			enfatizar a idéia de montagem industrial, oferecendo ao espectador a 
			visão simultânea do todo e das partes que a compõem. No Cubo, do 
			mesmo ano, implantado à entrada do Edifício Biaggi, na Avenida 
			Paulista, em São Paulo, volta a empregar parafusos.
			Em outras obras, realizadas a partir da segunda metade da década de 
			70, emprega soluções semelhantes a cantoneiras e canaletas, afins 
			das estruturas industriais e urbanas (pontes, plataformas, 
			guindastes, trilhos), mas que ele transforma em "flores de aço", 
			como as que criou, com escalas e complexidades diversas, para o 
			Parque da Catacumba, no Rio de janeiro, em 1979, para o Centro 
			Administrativo do Banco Itaú (1986) e para o Memorial da América 
			Latina (1989), ambas em São Paulo.
			
			Mais, nas colunas neoconcretas, criadas a partir de 1957, faz uso da 
			sucata industrial, mas não como crítica ao desperdício da sociedade 
			de consumo, segundo o esquema acumulativo e crítico da pop-art ou da 
			funk-art, mas como elementos de uma estrutura modular, permanecendo, 
			portanto, no âmbito da arte construtiva. Sua visão era, então, 
			qualitativa: transformar o caos em cosmo. As sobras industriais 
			permitiram a Weissmann criar estruturas gestálticas que "ilustram" 
			seu conceito inicial da escultura como desenho no espaço. Mas esse 
			desenho só se realiza com a participação do espectador, isto é, suas 
			colunas pedem que o espectador circule ao seu redor, pois só assim 
			ele poderá captar todas as suas virtualidades espaciais, todas as 
			suas possibilidades visuais - óticas e cinéticas.
			
			A série de múltiplos que realizou na década de 80, por sua vez, se 
			inserem coerentemente na evolução de sua obra construtiva, cuja 
			lógica indicava uma aproximação à indústria, através da 
			serialização. Porém, os múltiplos de Weissmann têm um mérito maior 
			que a pretendida democratização da arte: eles provam, de modo cabal, 
			que tamanho não é documento, isto é, a monumentalidade é algo 
			implícito à obra. Como demonstrou Bachelard em sua Poética do 
			espaço, miniaturas podem ser enormes quando vistas de seu interior e 
			sua leitura exige tempo e paciência. O pequeno não é necessariamente 
			intimista, da mesma maneira como o porte de uma obra ou sua 
			localização no espaço urbano não a tornam menos subjetiva. 
			Trabalhando nos extremos do grande e do pequeno, da rua e da casa, 
			Weissmann é sempre o mesmo artista. Seus múltiplos não visam 
			socializar a posse da obra, enquanto objeto de consumo, mas o acesso 
			a noções como equilíbrio, beleza, pureza formal, ludicidade. Da 
			mesma maneira, ao transformar chapas de aço em "flores tropicais", 
			ele atua na contramão da funcionalidade e do pragmatismo da 
			sociedade industrial.
			
			
			10
			O vazio e a sombra (virtualidades contrapostas: o não-ser e o 
			duplo), a repetição (estrutura modular), a permutação, o corte, a 
			dobra e a torção estão entre os elementos que compõem a poética 
			weissmanniana. De todos esses elementos, o mais fundamental parece 
			ser a torção, que está presente ao longo de quase toda a sua 
			criação, apesar de nem sempre percebida. Mais que o corte, mais que 
			a dobra, ela é a essência de sua operação visual. Antes da torção 
			vem o corte. Este nem sempre separa - apenas fende. É sempre um ato 
			radical, mas ainda não basta, ou melhor, não se basta. Precisa da 
			torção que provoca o deslocamento e cria a terceira dimensão. A 
			dobra apenas estanca a violência do corte. A torção também não 
			encerra o processo iniciado com o corte e que prossegue na dobra, 
			mas as tensões são mais fortes e persistentes.
			
			Weissmann não torce volumes, planos contínuos, massas. Não torce nem 
			retorce torsos humanos, expressionisticamente. Nem colunas, 
			barrocamente. Nem volumes, borrominicamente. Torce vazios, por 
			absurda que possa parecer essa afirmação. Torce o que ainda não 
			existe, virtualidades, atuando nos interstícios dos planos, no 
			espaço.
			É certo que a torre apresentada na Bienal de São Paulo, em 1967, 
			cria visualmente torções que fazem lembrar a coluna torsa do 
			baldaquino de Roma. Um pouco desse efeito ótico (barroco = 
			optical-art) ainda persiste na segunda coluna neoconcreta, de 1980, 
			que é algo brancusiana. Torcedelas é o que faz: o suficiente para 
			provocar o deslocamento da forma, mudar de rumo, desviar, criar uma 
			desarticulação momentânea da estrutura cúbica, gerando surpresas, 
			criar um momento de tensão. Algumas torções nem chegam a completar a 
			primeira volta sobre si mesmas, nunca chegam ao extremo da espiral. 
			Sugerem, insinuam, criam latências. E muitas vezes, como nas colunas 
			neoconcretas ou em obras como Três pontos, é o espectador que torce 
			o olhar, fazendo rodeio em torno da peça, torcicolando.
			
			A introdução de um novo elemento em seu vocabulário plástico, a 
			fita, que vem depois do cubo, da chapa, da coluna, da torre, da 
			cantoneira e da canaleta, estimula mais ainda o emprego da torção, 
			tencionando o espaço e dinamizando a estrutura. A palavra "fita", 
			empregada por Weissmann, deve ser entendida em seu sentido literal. 
			Trata-se de uma longa e estreita superfície de aço, delgada, como se 
			fossem tiras de papel ou tecido, e que ele faz subir e descer uma, 
			duas, três vezes em suas colunas, ou que dobra, aqui e ali, em 
			distâncias e ângulos irregulares e que serpeiam ou parecem 
			ziguezaguear no chão, como uma serpente.
			
			Na Coluna de duas fitas (1980/1985), a torção está localizada no 
			extremo inferior de uma das fitas/planos, mas o impacto tensionante 
			se estende por toda a estrutura vertical, revigorando o espaço. Essa 
			pequena e quase discreta torção ao pé da coluna não apenas cria um 
			espaço imprevisto, como reforça, no olhar do espectador, o seu 
			caráter ascensional. Um frisson percorre toda a peça, criando uma 
			formidável fonte de energia espacial. Noutras colunas, a torção se 
			dá no centro da peça: o quadrado resultante distribui simetricamente 
			a tensão criada.
			
			A Grande fita vermelha, de 1985, multiplica o número de torções, 
			isto é, de pontos de tensão, marcando o ritmo dinâmico da peça. A 
			escultura rasteja, serpenteia e dança, surpreendendo com suas 
			bruscas mudanças de percurso, pedindo ao espectador que também 
			circule em torno dela, que faça festa. Ou fita. Sabe-se que Calder 
			teve a idéia de seus móbiles vendo os quadros de Mondrian. Na base 
			da obra de ambos está a linha reta (em Calder é o fio de prumo). 
			Calder percebera que a reta não é senão a curva colocada em sua 
			tensão máxima. A Grande fita vermelha faz lembrar uma estrutura 
			sanfonada que pode ser alongada ou reduzida conforme a maior ou 
			menor pressão das mãos. Na sua origem, portanto, é apenas uma reta, 
			que a partir de uma sucessão ritmada de dobras-torções quase se faz 
			curva: Bernini serpenteado na grama. Mais à frente, a torção 
			desarticula o cubo, de um faz dois (cubos virtuais): xifópagos.
			
			Toda torção guarda a memória do corpo: torso, torcicolo, torcer, 
			dobrar-se, vergar-se. As estruturas torsas de Weissmann também. As 
			mãos do artista estão ali, subjacentemente. Vergando, inclinando, 
			encurvando, encaracolando, labirintizando ou desarticulando cubos, 
			formas em u, canaletas, cantoneiras, fitas ou colunas. A escultura 
			que o espectador tem diante de si guarda, íntegro, o ato criador do 
			artista, gênese permanente.
			
			
			11
			Muitas vezes, o crítico destaca na obra do artista - e não se pode 
			dizer que o processo é inconsciente - as suas próprias qualidades ou 
			idiossincrasias, aquilo que ele pensa ou deseja ver/ser. Vale dizer, 
			o crítico também projeta seus desejos na obra e na carreira do 
			artista. Síndrome de Pigmalião.
			
			Ao tentar decifrar o mistério da obra, decodificá-la, o crítico 
			acaba por des-velar aquilo que foi velado pelo artista. Mas à medida 
			que agrega valores, torna a velar a obra, que em cada leitura se faz 
			outra. A história de uma obra é, assim, um jogo infindável de 
			veladuras e des-veladuras, de revelações parciais. Voyeur amoroso, 
			tem os olhos pregados na obra, quer avançar mais, ver de perto, 
			descobrir o que se esconde. Entretanto, precisa manter um certo 
			distanciamento, que é dimensionado pela própria história da arte, 
			pois ele deve perceber, na aventura de cada artista, aquilo que o 
			vincula à arte de seu tempo. Deve saber avançar e retroceder, apoiar 
			o artista e, ao mesmo tempo, manter a distância que seleciona, 
			hierarquiza e dá sentido de permanência à obra. Viver profundamente 
			a experiência de cada trabalho e acrescentar-lhe sua própria 
			experiência, de tal maneira que, passado o tempo, a obra guarde a 
			intuição criadora do artista e a percepção aguda do crítico.
			
			O essencial, porém, é perceber que, na verdade, é sempre a obra, ela 
			mesma, que indica ao crítico a forma de sua abordagem. Essa é uma 
			das muitas lições que aprendi no convívio de mais de 30 anos com a 
			criação maior de Weissmann.
			
			Num depoimento dado a Ferreira Gullar, em 1959, Weissmann afirmou: 
			"Em minha escultura não há sensualidade, minha escultura não 
			explode." De fato, sua escultura foi assim, ascética e austera, 
			durante pelo menos duas décadas. Até que um dia decidiu introduzir a 
			cor, argumentando que ela quebrava o silêncio da pureza geométrica, 
			unificando os planos e os elementos entre si, tornando-a cantante e 
			mais comunicativa. Creio que a primeira escultura colorida de 
			Weissmann foi Arapuca, de 1966, exposta na Bienal de São Paulo do 
			ano seguinte. À época não dei muita atenção ao fato. O que me 
			impressionara foram as dimensões da peça (cinco metros de altura) e 
			o emprego de módulos de madeira pintada, permitindo uma grande 
			liberdade de estrutura.
			
			Quando a cor já se instalara irreversivelmente na obra de Weissmann, 
			afirmei, com certa arrogância, que o problema da escultura não 
			estava na cor, mas no espaço, acrescentando que a cor em nada 
			contribuíra para enriquecer o espaço em sua obra. Mas já então me 
			perguntava (perguntava aos meus leitores) se não estava exigindo do 
			artista um tipo de fidelidade que, na verdade, era minha, e não 
			dele. Ou por outra, eu não estaria agindo preconceituosamente ao 
			dizer que a cor é problema de pintura, tentando, assim, impedi-lo de 
			fazer o que considerava melhor e mais adequado à escultura?
			
			Não posso negar, entretanto, que naqueles momentos sentia, como às 
			vezes ainda hoje sinto, a nostalgia da severidade de suas 
			superfícies nuas, ferruginosas, da austeridade do preto, do 
			ascetismo monástico de suas colunas, daquela espécie de calvinismo 
			artístico, que eliminava parte do prazer visual em nome de uma 
			essencialidade metafísica. Nessas recaídas nostálgicas imaginava-me 
			vendo o artista quieto no seu canto, ruminando pensamentos, obras, 
			como que assustado ou envergonhado com tanta agitação imprevista 
			trazida pela cor, protegendo-se dos espaços mais silenciosos de 
			antigas colunas.
			
			Mas a cor veio e provou que na escultura ela tem uma capacidade de 
			irradiação muito maior do que na pintura. É que na rua, na sociedade 
			de consumo em que vivemos, em meio ao bombardeio visual dos meios de 
			comunicação massiva, a escultura, para sobreviver, precisa da cor, 
			quer o confronto. Dou a mão à palmatória: é impossível não se deixar 
			envolver por essa alegria nova que a cor trouxe à escultura de 
			Weissmann. Nem de se apaixonar. À introdução da cor correspondeu 
			maior liberdade de estrutura, com o aparecimento de uma 
			espacialidade generosa e aberta. Desde então nada mais deseja 
			aquietar-se em sua escultura, o artista deixou de reprimir ou inibir 
			o movimento. Forma e cor se abraçam. A forma canta, a cor baila e, 
			juntas, fazem a festa do olhar.
			
			
			12
			As esculturas de Weissmann já integram a paisagem de várias capitais 
			brasileiras e, por sua beleza altiva e vigorosa, vão se 
			transformando em marcos da cidadania, em signos urbanos. Elas podem 
			ser vistas em Belo Horizonte (Coluna linear, dos anos 70, medindo 15 
			metros, instalada na Minas Diesel, e o monumento-marco da comunidade 
			judaica na capital mineira), Brasília, São Paulo e no Rio de 
			janeiro.
			
			Provavelmente poucos cariocas devem conhecer o nome do autor ou 
			jamais se preocuparam em identificá-lo, mas, com toda certeza, devem 
			guardar na memória, bem nítidas, algumas das esculturas de Weissmann 
			implantadas em diversos pontos da cidade. Uma delas está bem à 
			vista, defronte do prédio da IBM, em Botafogo: são duas formas em u, 
			interligadas por uma torção, mas sem romper a continuidade da fita. 
			Outra encima uma pequena colina, no Parque da Catacumba, junto à 
			Lagoa Rodrigo de Freitas, pintada de vermelho e sempre ameaçada de 
			desaparecer em meio ao verde das árvores. Uma das "cantoneiras" 
			premiadas no Panorama de Arte Atual Brasileira, em 1975, encontra-se 
			no jardim fronteiriço de um edifício residencial da Avenida Vieira 
			Souto. Bem perto dali, na mesma avenida, funcionando como uma 
			espécie de logotipo tridimensional da Casa de Cultura Laura Alvim, 
			há um outro belo exemplo da criação escultórica de Weissmann, tendo 
			o quadrado e a torção como "temas".
			
			No campus da Universidade Cândido Mendes, na Praça XV, centro do Rio 
			de janeiro, Weissmann implantou duas esculturas, belas e fortes. 
			Estão datadas de 1984. Uma delas, em aço pintado de vermelho, com 
			seis metros de altura, é constituída de duas formas em u, 
			contrapostas, simbolizando, segundo o artista, a integração dos 
			corpos discente e docente. A segunda, em preto fosco, retoma um 
			projeto neoconcreto de 1957 - uma chapa da qual se arrancou um 
			círculo, o qual, após ser deslocado, sofre um corte que abre no 
			negro com que foi pintada uma nesga de luz. Tem quatro metros de 
			altura. A que se situa na praça interna é alegre e diurna, solar. A 
			outra, austera, noturna, fechada sobre si mesma, encontra-se num 
			pequeno jardim quase junto à rua. A primeira pede que a habitemos 
			alegremente. A segunda quer ser contemplada em silêncio, com vagar. 
			Foram denominadas pelo artista de Encontro e Terra. Eu as chamo de 
			esculturas do sol e da lua. Elas correspondem a dois momentos da 
			criação weissmanniana e pedem diferentes leituras.
			
			Em São Paulo, suas peças estão localizadas nos jardins de escultura 
			da Fundação Armando Álvares Penteado, na Praça da Sé (Diálogo), na 
			praça cívica do Memorial da América Latina (Grande flor tropical: 
			quase um ser vivo, prestes a caminhar) e no Centro Administrativo do 
			Banco Itaú. Aqui são duas peças: uma delas é quase uma flor 
			aquática: suas formas viris se des-mancham, projetadas no espelho 
			d'água. A outra, medindo 15 metros, é como indica seu título, um 
			Portal, no qual se destaca, em primeiro plano, uma grande lâmina de 
			concreto pintado de amarelo, tendo como contraponto uma lâmina 
			menor, deitada, azul, e uma coluna de aço 'corten'. Todos esses 
			elementos, e mais uma espécie de trilho horizontal, localizado no 
			ponto mais alto da peça, estão solidamente integrados, 
			proporcionando uma rica espacialidade no jogo de verticais e 
			horizontais.
			
			Num dos seus textos utópicos dos anos 60, Mário Pedrosa fala de uma 
			"revolução da sensibilidade", que seria a grande revolução, a mais 
			profunda e permanente. Mas alertava: "não serão os políticos, mesmo 
			os atualmente mais radicais, nem os burocratas do Estado que irão 
			realizá-la". Se essa revolução se realizar, será comandada por 
			artistas do porte de Weissmann. Com suas esculturas urbanas, ele não 
			está educando o olhar do público apenas no âmbito do universo 
			artístico. Eu o vejo reeducando o olhar do público em relação a todo 
			meio formal da cidade. Ver e compreender uma escultura de Weissmann 
			significa ver e compreender a beleza de outras estruturas existentes 
			na cidade, aquelas naturais, de que a paisagem do Rio é tão farta, 
			como aquelas que estão sendo construídas pela indústria e pela 
			tecnologia. E principalmente significa compreender aquelas 
			estruturas, aparentemente informes e imprecisas, mas que são 
			permanentes e absolutamente necessárias à vida social e aos 
			indivíduos: democracia, liberdade e beleza.
			 
©Frederico 
			Morais
			Revista Piracema, Nº 2, ano 2, 1994.