DEPOIMENTO A FREDERICO MORAIS
FM— Situe rapidamente as fases iniciais de sua escultura, 
digamos a partir de Belo Horizonte. 
FW— Preciso explicar o seguinte: como cursei a Escola Nacional de Belas Artes, 
fazia figurativo porque, sendo uma academia, lá só se concebia, naquela época, a 
arte figurativa. Minha permanência em Belo Horizonte foi como um retiro 
voluntário, para me libertar do peso acadêmico que me foi imposto pela ENBA. No 
início continuei figurativo, mas pode-se ver que mesmo as minhas figuras são 
formas sintéticas. São minimal figuras, dentro do conceito atual da minimal 
arte. Procurei a máxima síntese dentro da forma humana. 
FM - Como e quando você passa para a geometrização e, depois, para a 
geometria? 
FW— Já nas minhas primeiras figuras pode-se sentir uma tendência de ordem 
geométrica, que aos poucos foi-se acentuando, numa evolução lenta, que levou 
vários anos, até chegar ao despojamento total da figura humana, para depois 
entrar no caráter geométrico propriamente dito. 
FM - Situe especialmente sua participação no Concretismo/Neo-Concretismo.
FW - Dentro de minha procura de ordem e disciplina, forçosa e inconscientemente 
fui me encaminhando para esse rumo, que se convencionou chamar de Arte Concreta. 
Não foi caminho consciente, preconcebido. A coisa em mim foi se desenvolvendo 
naturalmente. Acho que não houve uma influência direta do meio, porque eu estava 
isolado em Belo Horizonte. Acompanhava, é claro, pelos jornais. Mas, no início, 
não participei dos movimentos concretistas brasileiros. A ligação consciente com 
os concretistas surgiu depois dos trabalhos que realizei em Belo Horizonte. Foi 
um resultado natural de afinidades. Também não vi a exposição de Max Bill. Só 
fui vê-lo na 1a Bienal de São Paulo, com a "Unidade Tri-partita", que não estava 
em seu caminho de linhas retas. No período Neo-Concreto já haviam mudado para o 
Rio, onde participei dos encontros e debates do grupo. Também aí minha adesão é 
explicada por uma afinidade com os princípios do movimento. 
A gente quase que poderia chamar o Neo-Concretismo de concretismo 
latino-americano. O Concretismo nasceu na Suíça, um país de filosofia diferente 
da nossa. Aqui tudo influiu para as modificações: outro clima, outra filosofia 
de vida, outra cultura, um conceito mais aberto de todas as coisas. Um 
concretismo jovem só poderia nascer num país novo, corno o nosso. Em nosso 
manifesto já dissemos que procurávamos criar o "nosso" concretismo. 
FM— Mencione eventuais influências sobre seu trabalho. 
FW — Não quero me perder em especificar as influências que todos nós sofremos 
até encontrar nosso próprio caminho. Não se pode nascer do nada. Tudo que nasce, 
nasce de alguma coisa. Não interessaria em nada toda a nossa energia e vontade 
se ficássemos inteiramente isolados de todo contato com outras culturas que nos 
precederam e que existem paralelamente à nossa. 
FM - Durante muito tempo o quadrado, como arquétipo da forma (beleza) pura, 
foi sua preocupação principal. Por que? 
FW — O quadrado e sua transposição à terceira dimensão, o cubo, são as formas 
mais puras, mais equilibradas. Por isso servem de ponto de partida para o 
desenvolvimento de meus trabalhos. Com eles procurei criar espaços modulados em 
função do princípio de equilíbrio. 
FM— Certa vez, definiu sua escultura como um desenho no espaço. É assim ainda 
que encara sua escultura? 
FW - Eu me referia às esculturas lineares, que realizo até hoje. O fio é o 
limite do plano espacial, a concretização da linha, que é bi-dimensional. Por 
isso, minhas esculturas lineares determinam um espaço virtual, tornando-se como 
desenho no espaço. 
FM — Da mesma maneira disse, antecipando a participação do público em sua 
obra, que gostaria que as pessoas caminhassem dentro de suas pecas. Como coloca, 
hoje, o problema da participação do público, na escultura, em relação à 
arquitetura e o urbanismo? 
FW — Foi sempre minha preocupação,em meu trabalho, não o ver simplesmente de 
fora, como um objeto de adorno, mas como problema espacial. Sempre imagino 
minhas esculturas em dimensões monumentais, transitáveis, mas não habitáveis. 
Meu espaço deve funcionar tanto de fora para dentro como de dentro para fora. 
Minha escultura é pensada para sei integrar na paisagem ou no meio ambiente 
arquitetônico, interior ou exterior.Por exemplo, minhas esculturas lineares (as 
da Bienal de Veneza) ou os grandes planos atuais procuram formar um contraste 
com a paisagem, mas nele se integrar sem criar conflitos. 
FM— Quando a cor surgiu em sua escultura? Relacionar cor e material, cor e 
espaço. 
FW— O problema da cor na escultura já vem me preocupando há vários anos. Minhas 
primeiras esculturas coloridas foram expostas na 9a Bienal de São Paulo: a torre 
vermelha, em ripas de madeira, e trabalhos utilizando estruturas primárias da 
indústria, pintados em azul e amarelo. Eram também elementos lúdicos, mutáveis, 
que exigiam a ação direta do espectador. O público devia participar de um 
processo de recriação contínua, como um estímulo à inventividade. A cor tem uma 
importância essencial em minha escultura de agora. Tudo é luz e cor. Sem luz e 
cor, nada existe. Os próprios materiais naturais têm cor. Fala-se na cor do 
alumínio, do ferro, do aço. Os materiais sintéticos hoje utilizados são 
coloridos. A escultura geométrica colorida é considerada uma das correntes mais 
avançadas da escultura contemporânea. De minha parte, utilizo a cor pintada, em 
minhas esculturas, com a intenção dedar mais força expressiva e dinâmica, 
comunicá-la mais, quebrar o silêncio da pureza geométrica. Com a cor, elas 
cantam mais, vão mais ao encontro do espectador. Isto para mim é muito 
importante, esta necessidade de uma comunicação mais direta e mais intensa com o 
espectador. Utilizo a cor também como instrumento de unificação. A cor une os 
elementos e os planos entre si, porque dá continuidade ao espaço. Quando quero 
criar contrastes de sombra e luz, ou de profundidade, uso cores distintas, 
exatamente com a intenção contrária, a de acentuar as diferenças de planos no 
espaço. 
FM — Sua escultura já foi definida como minimalista e pós-minimalista. Você, 
ao que parece, se considera um essêncialista. Poderia distinguir esses termos?
FW— Minha escultura é uma conseqüência natural de minha necessidade de síntese: 
dizer com o mínimo de elementos. O mais no menos. É o nada no tudo, o tudo no 
nada. Uma espécie de comportamento zen. Me sinto essência lista, porque procuro 
abranger, com minha escultura, um sentido mais transcendental. Minha escultura 
não se preocupa apenas com a economia de materiais. Tem um sentido mais 
metafísico, filosófico e espiritual. 
©FREDERICO MORAIS 
outubro de 1975