Ferreira Gullar
			Do que se chama escultura
O problema da escultura na arte neoconcreta 
			colocou-se de modo semelhante ao da pintura, muito embora guardando 
			suas características próprias. Também neste campo, a forma 
			significante substituiu a forma óptica e, conseqüentemente, 
			passou-se do ritmo seriado a uma concepção mais complexa da 
			estrutura. Os dois escultores que participam do movimento 
			neoconcreto - Franz Weissmann e Amílcar de Castro - vieram ambos da 
			experiência concretista mas, tanto um como outro, sempre mantiveram 
			certa distância com respeito aos princípios ortodoxos da arte 
			concreta. Ambos sofreram uma influência inicial de Max Bill e dela 
			partiram para a descoberta de sua expressão pessoal dentro do 
			vocabulário construtivo.
			
			A arte concreta encontrou, no campo da escultura - ou da construção 
			no espaço real - terreno mais propício para seu desenvolvimento do 
			que na pintura - espaço bidimensional - onde se limitou, na maioria 
			dos casos, à ilustração de problemas perceptivos. O interesse dos 
			artistas concretos pela exploração de novas relações 
			espaço-temporais - o problema das superfícies sem fim, das múltiplas 
			direções do espaço etc. - não poderia, na pintura, ir além da 
			representação de tais problemas, enquanto que na escultura, lidando 
			com elementos reais, era mais livre a invenção e maiores as 
			possibilidades intuitivas.
Foi por volta de 1958 que sua escultura ganhou um 
			sentido mais orgânico, de ritmos descontínuos e repousados, e o 
			espaço, por eles captados, assumiu uma expressão mais interior, de 
			repercussões mais amplas. A qualidade e o caráter pessoal da obra de 
			Weissmann advêm sobretudo de ser ele um artista predominantemente 
			intuitivo, que busca na experiência direta da forma e do espaço a 
			estrutura de suas obras. Suas idéias nascem diretamente do trabalho, 
			como problemas imediatos aos quais dá ele solução: a teoria não 
			encontra campo para se formular. Não obstante, afirmou Weissmann, 
			certa vez, que "a escultura deve nascer do chão como uma árvore"; 
			afirmação que, além de acentuar-lhe a natureza orgânica do 
			pensamento escultórico, torna evidente sua preocupação em eliminar 
			da escultura o propósito representativo ou ilustrativo. Reside nesse 
			caráter orgânico de sua obra a afinidade que o liga ao movimento 
			neoconcreto.
 
 ©Ferreira Gullar - Jornal do Brasil, Rio de 
			Janeiro, 05 / 11 / 1960.