| 
		 Discreta épica da forma Ronaldo Brito Décadas de exercício coerente transformaram a obra de Franz Weissmann quase em sinônimo da moderna escultura urbana brasileira.(...) O seu espírito lúdico imprime sempre um frescor, uma leveza própria ao senso de disponibilidade, às graves manobras de seus desafios geométricos - abrir ao infinito o cubo, reinventar retângulos em expansão ou contração, romper ou combinar elipses, círculos e quadrados em estágios de perpétua formação etc. E tudo isto anuncia espontânea, quase alegremente, uma ética austera de trabalho: a reflexão incansável e independente sobre os nexos da forma, o impacto sensível produzido por suas transfigurações tomam lugar na engenharia social de qualquer democracia livre. Tais esculturas se resolvem idealmente(...). Procuram responder, 
		de fato, aos apelos, aflições e desejos característicos do envolvimento 
		moderno do homem no mundo.(...) De todo modo, em um ambiente, senão mesmo 
		um contra-ambiente convulso, perversamente empenhado em refutar ponto por 
		ponto o programa da Bauhaus de espiritualização do cotidiano, Weissmann 
		continua a exercer sua discreta épica formal, a operar uma kátharsis eminentemente 
		civil - em última instância, parafraseando Aristóteles, suas peças reconciliam 
		o homem com a forma conturbada do mundo atual. E o fazem graças à compreensão 
		intuitiva, somada a um quantum a essa altura incalculável de sabedoria plástica 
		acumulada, sobre os valores básicos da percepção descentrada desse perplexo 
		cidadão moderno - desde a sua habitual neutralidade demente diante do bombardeio 
		constante de estímulos abusivos, sua inconsciência formal generalizada, 
		até as suas historicamente inéditas agilidade de leitura e capacidade latente 
		para discernir "todos" formais abertos e descontínuos. (...) De minha parte, creio que, através dessas torções e tensões significativas das formas abstratas, adivinhamos uma insuspeitada comunhão dos opostos, constatamos (e saímos fortalecidos) a comunicabilidade universal peculiar à imaginação geométrica, enfim, descobrimos harmonias transitórias ali onde só enxergávamos confusão e desordem. Cada uma das esculturas de Franz Weissmann conseguiria assim realizar, no plano do imaginário formal, algo muito palpável - viabilizar um encontro, selar um acordo, liberar um caminho que, antes delas, pareciam altamente improváveis. Em um real que continua a se reproduzir sobretudo através de conflitos, equívocos e desencontros, convenhamos, não é pouco, nem um pouco. 
		
		  |